Li recentemente um artigo da Suzy Menkes (para quem não conhece, é uma das grandes jornalistas de moda da atualidade e é colaboradora do International Herald Tribune) que fala sobre a velocidade frenética com que as coleções se sucedem no panorâma internacional. Menkes fala das dificuldades que os jovens designers sentem em produzir coleção atrás de coleção, a uma velocidade alucinante de 6 a 10 desfiles por ano. Pensar apenas em Primavera/Verão e Outono/Inverno já não é suficiente. O mercado internacional impõe um ritmo veloz, onde algumas marcas chegam a apresentar 10 coleções ao ano que se desdobram em linhas de pre-fall, resort, homem (a duplicar – Primavera/Verão e Outono/Inverno), coleções específicas para a Ásia, Brasil ou Dubai e, por vezes, couture. É de loucos.

E a pergunta que se impõe é? Porque tantas coleções? As peças não chegam a estar mais de 5 semanas nas lojas e há uma rotatividade constante. As peças chave das principais marcas são as mais desejadas e aquelas que raramente estão disponíveis.
” (…) Who are the crazy ones? The buying public demanding fashion now!, clicking online to buy during Burberry’s live-stream runway show months before the clothes are produced for the stores? The online shoppers hitting on special delivery pieces from Net-a-Porter that no one else will have — at least for the next two weeks?
Or has fashion itself gone mad, gathering speed so ferociously that it seems as if the only true luxury today is the ability to buy new and exclusive clothes every microsecond? (…)”
O comércio online veio acelerar tudo e existe uma falsa necessidade de “ter primeiro”.
“Ter mais.”
“Ter qualquer coisa que ninguém tem… nem que seja por duas semanas”, como refere Menkes.
A partir daí, existe uma massificação. Cópias atrás de cópias. As cadeias de fast fashion (Zaras e afins) perpetuam este espírito de usar e deitar fora. As peças são giras, apelativas, trendy. Enchem o olho mas depois cansam. “Óptimo, assim compra-se mais.”
E entra-se num ciclo vicioso em que existe a sensação de que se precisa de mais. E é mentira.
Quanto mais se tem, menos se usa. Menos se vive aquilo que se veste.
O vício de comprar confunde as pessoas. É dispendioso e inútil. Mas as pessoas parecem não se importar muito com isso. São raras aquelas que ficam aborrecidas por gastar, €10, €20, €50 ou €100 (ou muito mais) em qualquer coisa que nunca usam mas que está algures pendurada num armário a abarrotar.

Começa o caos, a confusão e, ao mesmo tempo o esquecimento (daquilo que se comprou e nunca se usou e se perdeu algures entre cabides e gavetas sobrelotadas). E aumenta a sensação de necessidade.
O consumo inteligente deve ser consciente. O lado refrescante da moda, usado a nosso favor, faz todo o sentido e pode ser encarado como qualquer outro prazer.
Quando passa a ser um vício, ainda faz sentido?